terça-feira, 20 de março de 2007

Marco Tronchetti Provera, da Telecom Italia, corre o risco de ser preso por espionagem que atingiu o Brasil

Grampo e propina: esquema da Telecom Italia teria destinado US$ 2 mi para corrupção no Brasil. Marco Tronchetti Provera, da Telecom Italia e Pirelli, corre o risco de ser preso por espionagem que atingiu o Brasil.

Nas ruas, nos táxis e nos cafés de Milão, cidade mais próspera da Itália, o Brasil é a bola da vez.

Uma das razões é a volta do atacante Ronaldo, prestes a trocar as cores do Real Madrid pelas do Milan. Mas há um outro motivo, bem mais explosivo. Trata-se da investigação que já prendeu mais de 20 pessoas ligadas à Telecom Italia, dona da empresa de celulares TIM, a segunda maior no mercado brasileiro.

O processo está bem guardado no terceiro andar do Palazzo de Giustizia, localizado à Via Freguglia número 1, onde despacha o procurador Fabio Napoleone. E as suas investigações, a cada dia, apontam para o peito de Marco Tronchetti Provera, controlador da Pirelli, da Telecom Italia e um dos homens mais ricos e poderosos do país.

O que se discute agora é se foi ele, Tronchetti, quem ordenou a montagem de uma extensa rede de espionagem e de corrupção, que atuou em vários países – em especial no Brasil. Na quinta-feira 25, o jornal La Repubblica, um dos mais fortes da Itália, noticiou que os dossiês feitos pelos espiões dessa quadrilha eram encomendados pelo “vértice” da operadora telefônica, ou seja, por Tronchetti. E o que se especulava, nos meios jurídicos e empresariais italianos, é que o próprio capo da Pirelli e da Telecom Italia poderia ser preso a qualquer momento.

O estopim seria a invasão dos computadores do jornal Corriere dela Sera e do seu vice-diretor Massimo Mucchetti, por suposta ordem de Tronchetti – o que ele nega ter feito. Numa carta aberta à sociedade italiana, o empresário pediu que parassem de “atirar lama” na Telecom Italia e se disse confiante na Justiça.

Do que se apurou até agora, muito há sobre o Brasil. As informações mais importantes foram prestadas pelo espião Marco Bernardini, que fez um acordo de delação premiada com a Procuradoria de Milão e, com isso, escapou da prisão – ao menos por ora. Bernardini revelou que o grupo de espionagem da Telecom Italia, batizado de “tiger team”, foi fundado por Giuliano Tavaroli, um ex-diretor da empresa que está preso desde setembro, e pelo investigador Giampaolo Spinelli, que vive nos Estados Unidos.

No Brasil, esse grupo contou com a participação de Marco Bonera, que foi sucedido pelo ex-tenente italiano Angelo Jannone. Cabia a Bernardini fazer os pagamentos escusos ordenados por essa gente – e o dinheiro jamais poderia sair diretamente dos cofres da Telecom Italia. Foi por isso que Bernardini criou nos Estados Unidos uma empresa chamada Business Security Agency, com conta no Barclay’s Bank. Os recursos italianos, antes de caírem em mãos brasileiras, passavam por lá.

O período em que o “tiger team” italiano atuou de forma mais intensa no Brasil foi durante os anos de 2004 e 2005. Naquele momento, a Telecom Italia disputava o controle da operadora telefônica Brasil Telecom com o grupo Opportunity, do banqueiro Daniel Dantas. E o que disse Bernardini a esse respeito até agora? Que de sua empresa saíram recursos destinados ao pagamento ilegal de políticos, lobistas e jornalistas brasileiros – cerca de US$ 2 milhões ao todo.

Uma primeira parte do dinheiro teria sido direcionada ao lobista Alexandre Paes dos Santos, o APS, para pagamento de políticos. Uma segunda ao advogado Marcelo Elias, que é sócio de Luís Roberto Demarco, um ex-funcionário do Opportunity que movimentou várias peças na longa guerra pela Brasil Telecom. Outra fração teria sido destinada, segundo Bernardini, a alguns policiais – em 2004, no calor dessa disputa, a Polícia Federal deflagrou a Operação Chacal contra o grupo Opportunity.

Nem todos os pagamentos ilegais, porém, saíram da Business Security Agency. No Brasil, a Telecom Italia teria feito diretamente um contrato de R$ 90 mil mensais com um consultor fluminense, cuja finalidade seria pagar jornalistas.

Naturalmente, o empresário Tronchetti Provera tem afirmado que não sabia de nada. E diz que a atuação dessa rede de espionagem, que chegou a gastar mais de 30 milhões de euros em operações secretas batizadas como “macumba”, “vaca louca” e “radiomaria”, ocorria sem o seu aval.

O curioso é que o responsável pelo ataque cibernético ao Corriere dela Sera, Fabio Ghioni, era diretor de auditora da Telecom Italia até ser preso, dias atrás. E, segundo o delator Bernardini, foi também Ghioni quem preparou o dossiê do “caso Kroll”, que serviu de base para a Operação Chacal da Polícia Federal, com dados falsos e manipulados pelo próprio Ghioni.

A favor da possível inocência de Tronchetti há alguns argumentos. O primeiro é o de que ele e sua esposa, Afef, também foram investigados – o que é verdade. O segundo é o de que essa estrutura foi, em parte, herdada – Tronchetti assumiu a Telecom Italia apenas em 2002, cinco anos depois da privatização. Além disso, na Itália, assim como no Brasil, nem tudo é o que parece ser.

A Telecom Italia é a maior empresa italiana e, em função disso, é também muito cobiçada. Fontes próximas à operadora especulam algumas hipóteses. E todas apontam para uma possível armação, de modo a obrigar Tronchetti a vender a sua jóia da coroa. Possíveis adversários, como Marco de Benedetti, do fundo Carlyle, e Paolo Dalpino, da operadora de celulares Wind, poderiam estar por trás de tudo. Seja ele culpado ou não, o fato é que tudo parte de fatos reais. E isso pode esclarecer como agiu o “tiger team” no Brasil em 2004 e 2005.

Fonte: Leonardo Attuch, da IstoÉ

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