O golpe do falso seqüestro se transformou em prioridade da Segurança Pública em São Paulo. Não é para menos. Só o Centro de Operações da Polícia Militar (Copom) recebeu 3.150 ligações de 1º de janeiro a 14 de fevereiro com queixas sobre criminosos que tentam extorquir dinheiro alegando que mantêm em cativeiro algum parente da vítima. O que começou com telefonemas de bandidos presos, hoje envolve pessoas em liberdade que recebem o pagamento dos resgates. Para dar maior credibilidade à ameaça, os criminosos estão usando pessoas que aparecem chorando ao telefone desempenhando o papel de "filho seqüestrado".
"Algumas pessoas entram em desespero e acabam cumprindo tudo o que os bandidos mandam", disse o capitão Marcel Soffner, da Polícia Militar. Os números da PM incluem somente os casos da cidade de São Paulo. Exemplo desse desespero foi o que ocorreu ontem de madrugada com a aposentada Joselma, de 63 anos, moradora na City Lapa, na zona oeste de São Paulo. Por pouco ela não embarcou em um avião para o Rio carregando jóias para entregar aos bandidos. Localizado pela polícia, seu filho Marcos, de 31 anos, encontrou foi encontrar a mãe no Aeroporto de Congonhas.
Segundo o delegado-geral da Polícia Civil, Mário Jordão, o golpe é uma das grandes preocupações da atual administração. "Queremos dar tranqüilidade à população", afirmou. Só neste fim de semana, a Divisão Anti-Seqüestro (DAS) atendeu a três casos de empresários que quase caíram no golpe. "Diariamente são dois ou três. As vítimas ficam quase que hipnotizadas pelos bandidos", disse o delegado Wagner Giudice, diretor da DAS.
Até gente com experiência no ramo de segurança já caiu no golpe. Recentemente, um oficial da reserva das Forças Armadas pagou R$ 15 mil aos bandidos. Houve até o caso do amigo de um delegado que saiu de casa de madrugada para pagar R$ 5 mil. Os bandidos diziam que estavam com seu filho. Detalhe: a vítima não tinha filhos. Mas resolveu pagar mesmo assim, pois temia que os criminosos estivessem com o filho de algum conhecido.
A DAS está investigando os casos que lhe são comunicados. Em um deles, o telefonema dos criminosos foi atendido por um adolescente de 16 anos. Os bandidos convenceram-no de que sua mãe estava seqüestrada. Obrigaram o rapaz a apanhar jóias e ir para um hotel e desligar o celular. O adolescente, no entanto, deixou o celular ligado. Em pouco tempo, foi encontrado pela família e pela polícia.
"Quando esse tipo de pedido ocorre pode ter certeza de que é golpe", disse Giudice. O objetivo dos ladrões é isolar a vítima no hotel enquanto procuram alguém que possa apanhar o dinheiro e as jóias. Também querem impedir que a vítima contate a família e descubra a farsa.
Quando são identificados, os criminosos são acusados de extorsão - crime punido com até oito anos de prisão. Foi o que ocorreu com a auxiliar de enfermagem Juliana Aparecida Xavier, presa em 13 de fevereiro quando ia receber o dinheiro da extorsão, no Paraíso, na zona sul da cidade. "Ela tinha um namorado preso em São Paulo, mas as ligações para a família da vítima vinham do Rio de Janeiro", afirmou o delegado Eduardo de Camargo Lima, da DAS.
Um dia depois, a aposentada Mércia Mendes de Barros, de 67 anos, morreu após atender a um telefonema em que os bandidos diziam que haviam seqüestrado seu filho. Mércia era cardíaca e sofreu um enfarte.
domingo, 11 de março de 2007
Polícia de SP registra 3 mil falsos seqüestros em 45 dias
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